POR: PATRÍCIA GOMES
O paulistano Caio Dib, 22, acabou de se formar em jornalismo. Com o
dinheiro que vem juntando dos empregos que já teve, podia ter ido fazer uma
viagem pela Europa para comemorar o ciclo que se inicia ou podia até ter se
dado um presente. Mas não. Ele resolveu viajar pelos rincões do Brasil
conhecendo boas práticas em escolas, financiando a aventura do próprio bolso.
Tem se hospedado em albergues ou hospedarias baratas, adotou a estratégia de
fazer apenas uma boa refeição por dia e, desde março, quando a viagem começou,
já rodou mais de 6.000 km usando avião, ônibus, carro e barco. Até agosto,
quando a odisseia acaba, ele deverá ter visitado 50 cidades e mapeado 25
experiências em educação.
“Eu ouvia falar das escolas, mas não as conhecia de verdade”, disse
Caio, que vem se envolvendo com educação desde o ensino médio. Ele trabalhou na
área de novos negócios da diretoria de tecnologia da Abril Educação, em alguns
projetos de educomunicação e com redes sociais. “Quis conhecer o Brasil de fora
do escritório”, afirma o jovem, que pediu a especialistas indicações de
experiências que deveria conhecer e montou um roteiro “totalmente aberto”, como
gosta de frisar. Assim, quando dá na telha, se tem uma oportunidade de conhecer
mais uma prática, estende sua estadia. Se perceber que não vale a pena,
encurta. Nesse meio tempo, pela janela do ônibus e com conversas fiadas, vai
também entrando em contato com um Brasil totalmente novo para ele. “Se você não
vai atrás, não conhece nada além do seu mundinho. Eu já vi animal morto pela
seca, chão de terra, casa de taipa”, diz.
crédito Sergey / Fotolia.com
Por enquanto, já visitou dez iniciativas educacionais. Conheceu, por
exemplo, uma escola sustentável numa periferia de Belém, no Pará, a Emef Dr. Carlos
Guimarães. Lá, a diretora, que é ex-aluna, fez um programa de reaproveitamento
de água da chuva, criou uma horta e estimulou a reciclagem, o que mudou o
ambiente da escola. No Rio Grande do Norte, conversou com pessoas do governo e
conheceu as diretrizes da reformulação do projeto de EJA do estado – o
currículo está sendo repensado por ocasião da comemoração dos 50 anos do método
de alfabetização de Paulo Freire. Encantou-se com uma escola de uma comunidade
rural em Pentecoste, Ceará, que usa a aprendizagem cooperativa como espinha
dorsal das aulas.
Em cada novo projeto que visita, ele leva um objeto relevante da visita
anterior. Apesar de encontrar práticas inovadoras em vários lugares, afirma o
viajante, poucas estão conectadas com outras experiências. “Eu sempre peço para
a escola um objeto que represente o trabalho que ela faz. Pode ser um livro, um
ramo de planta da horta, um cd… Daí eu anoto os dados de quem foi o líder do
projeto e entrego pra escola seguinte”, afirma. “É uma tentativa de formar uma
rede entre eles. Até porque eu já estou formando a minha”, completa.
Além das escolas, Caio também está atento a personagens que tenham tido
sua vida mudada, de alguma forma, pela educação. Foi o caso da tia da tapioca,
que conheceu um dia no café da manhã do lugar onde estava hospedado. Aos 56
anos, Dona Dora quer fazer o Enem para concorrer a uma vaga em biologia porque
“querer não tem idade, né?”. Aos 10 anos, ela ensinou a mãe a ler e escrever.
Aos 14, precisou abandonar os estudos para ajudar em casa. Mas em 2008, com os
três filhos criados, voltou para a escola e agora está terminando o ensino
médio. “Eu gosto de ouvir história de gente. Tenho conhecido pessoas
incríveis”, diz ele.
Todas as experiências relacionadas à educação estão sendo registradas no
blog www.escolasdobrasil.blog.br
Para mantê-lo, tem recebido o apoio das revistas Educação e Escola
Pública. As cidades que ele já visitou e ainda planeja visitar estão marcadas
no mapa disponível no blog. Também é possível acompanhar a odisseia de Caio pelo Facebook, na página Caindo no Brasil.
Em poucos dias, Caio encerra sua travessia por cidades no Norte e no
Nordeste e começa a desbravar o Centro Oeste. Sua expectativa é transformar
tudo que tem visto, ouvido e sentido, além do blog, em um livro quando voltar
para São Paulo, no segundo semestre deste ano. Quem quiser conhecer alguma
experiência em educação que não deve deixar de fazer parte deste roteiro, pode
deixar a sugestão no blog.